“Ele não vai ser enterrado,
ele não vai ser sepultado
Ele vai ser plantado,
para que dele nasçam novos guerreiros,
minha mãe natureza”.
(Zenilda, esposa de Chicão Xukuru)
Um dos momentos mais marcantes da minha militância nos direitos humanos foi quando pude testemunhar um relato de Marquinhos Xukuru, filho de Chicão Xukuru, cacique assassinado em 1998 na terra do seu povo, no município de Pesqueira, agreste pernambucano.
Naquela quente tarde de Porto Alegre, no Fórum Social Mundial de 2005, as palavras de Marquinhos geraram duas sensações nas mais de duzentas pessoas que o ouviam.
Um nó na garganta, por estarem diante de uma pessoa marcada para morrer.
Ao mesmo tempo, uma serenidade acalentadora, geradora de confiança renovadora da disposição, graças à energia contagiante que aquele jovem cacique expressava na fala, no olhar e nos gestos.
Marcos Xukuru terminou seu depoimento em lágrimas, provavelmente sentindo a ausência – ou a indignação – que a morte de seu pai lhe causou.
O momento de intimidade partilhada durou pouco. Mal largava o microfone e era cercado por uma dezena de irmãos em armas e repórteres, alguns estrangeiros, sequiosos por ouvi-lo por mais tempo.
Eu entre eles.
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Neste momento em que se investiga a denúncia de (mais) um ato de barbárie cometido contra os índios, cabe lembrar – ou conhecer, para a maioria – esse nome.
Falar da luta indígena no Brasil sem mencionar Chicão Xukuru é como ler um livro com suas páginas centrais rasgadas.
Apesar disso, e assim como a própria luta indígena, Chicão é um nome amplamente desconhecido pela sociedade em geral, inclusive em Pernambuco, cenário principal da vida deste grande guerreiro do povo brasileiro.
Chicão foi assassinado a 20 de maio de 1998, com seis tiros de pistola 360mm, na frente da casa da sua irmã. Mais uma das milhares de vítimas dos ruralistas fizeram ao longo dos cinco séculos desse País.
O corpo do cacique nos deixou, mas não falta quem reverencie a sua memória e nela se inspire para continuar a luta.
O grupo Mundo Livre S/A, pioneiro do manguebit popularizado por Chico Science & Nação Zumbi, gravou uma música, em tom de manifesto, para homenagear Chicão.
O videoclipe da música traz imagens imortais dele e da luta do seu povo. Marquinhos e outros familiares de Chicão também estão registrados no vídeo.
O outro mundo de Xicão Xukuru
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Vale visitar o site do Espaço Cultural do Povo Xukurú de Ororubá, que mantém acesa a chama do cacique Chicão: http://www.xukuru.de
Grande Rogério, como vai meu amigo? Seus textos de vez em quando me movem a escrever. E isto ocorre quando lembranças rolam. Da última vez te falei aqui sobre Chico Science, Mundo Livre e Mangue que tive o prazer de ver, viver e caminhar naquele início de movimento e sua identidade com nossa luta pela Democratização da Comunicação.
Hoje vejo você falar de Chicão Xucuru. Fala do Cacique Chicão. Tive o prazer de conhece-lo em 1990. Fui chamado com outros companheiros para montar uma Coordenação Pastoral no então Colégio Nóbrega. Você sabe que minha militância nasceu na Igreja Progressista. Junto a Dom Helder, Padre Reginaldo Veloso (pároco do Morro da Conceição – das CEB´s) e tantos outros. Daí veio o convite.
A única coisa que exigimos foi liberdade para trabalharmos como sabíamos e acreditávamos. Pregar um Cristo Libertador que queria seus filhos tendo Vida em Abundancia. Buscar a construção do Reino de Deus aqui na Terra. E para construirmos isso precisávamos organizar os estudantes, professores e funcionários e juntos lutarmos por este Reino.
Lembro que uma de nossas primeiras ações foi no tradicional dia do Índio. Todos os Colégios faziam as crianças se vestirem de Índios e dançarem pros Pais. Numa encenação linda. Porém irreal.
Procuramos na época o então comprometido CIMI (Conselho Indigenista Missionário) que na época tinha gente ainda do tempo de Dom Helder e eles fizeram a ponte com os Xucurus para que trouxéssemos o Cacique Chicão para o Nóbrega para contar a verdade sobre a vida indígena no Brasil e denunciasse a ameaça de morte que estava sofrendo pois organizava a época o povo Xucuru e outras Tribos. Neste Debate chocamos o povo!!! Um Índio de verdade falando histórias reais que nada tinham a ver com as belezas tradicionais contadas com preconceitos e mentiras.
Daquele dia em diante passamos a ter uma relação maior. As lutas se afinaram mais. Quando soube da morte de Chicão. Só me lembrava daquele debate. No mesmo dia quando o anuncio tomou o Brasil recebi uma ligação de um amigo que a época trabalhava comigo e até hoje mora em Curitiba. Me enviou um vídeo do Debate na época para encaminhar ao povo Xucuru e Polícia Federal. Tenho esta fita até hoje.
Prometo depois deste seu belo texto digitalizar este vídeo e disponibilizar para quem quiser ver e enviá-lo. Pode Cobrar.
Abraços Fraternos e de Luta
Odilon Lima
By: Odilon Lima on 12/01/2012
at 22:23
Grande odilon! Fiquei tomado de emoção ao ler seu relato. Infelizmente não conheci o cacique Chicão. Mas, através da energia que o filho dele expressou naquele FSM-2005, sinto como se tivesse conhecido o Chicão, e por isso sinto muito a falta dele. Vou lhe cobrar esse vídeo. Estarei aí no carnaval novamente e se você quiser/puder me dar uma cópia para eu digitalizar aqui, será com honra e prazer que farei isso. Grande abraço!
By: Rogério Tomaz Jr. on 12/01/2012
at 23:50
Roger, definitivamente, suas linhas têm a capacidade de transportar o ser humano. De remeter o homem ao presente dos fatos, participar das imagens passado e projetar o futuro, sem limites. E uma onda de emoçao, de imagens descritivas, de movimento e de objetividade a cada paragrafo. Uma fluidez in cri vel! Bem comparando, a uma boa partida de bola, em que todo mundo sai ganhando.
Além dos temas relevantes que vc dedica ao mundo e à humanidade, a forma como vc escreve me surpreende a cada post. Toca nao somente a alma, mas afeta positivamente o inconciente. Privilegio/intuiçao de poucos, conhecer a escrita a nivel sublime. Espero um de seus livro em breve. Love, Tt.
By: Tati Barros on 13/01/2012
at 8:36
[…] [Veja a página especial sobre o caso, com todas as notícias sobre o assunto] […]
By: OAB, Cimi e SMDH comprovam ataque a acampamento Awá-Guajá « Conexão Brasília Maranhão on 13/01/2012
at 11:35
[…] [Veja a página especial com todas as notícias sobre o assunto] […]
By: OAB, Cimi e SMDH comprovam ataque a acampamento Awá-Guajá « Blog do murilopohl on 13/01/2012
at 22:19
[…] e o Ministério Público Federal possam apurar todos os detahes dessse crime contra os Awá-Guajá. [Veja a página especial com todas as notícias sobre o assunto] […]
By: OAB, Cimi e SMDH comprovam ataque a acampamento Awá-Guajá | #rnblogprog on 14/01/2012
at 11:16
Rogério,
Meus sinceros respeitos pelo que você significa na nossa luta.
Que continue assim, gentil e duro. Como o bambu. Que o vento e a tempestade pode até envergar, mas quebrar jamais.
Parabéns amigo e que os movimentos de direitos humanos tenham a sorte de poder continuar contando sempre contigo.
Marcos Rezende
By: Marcos Rezende on 15/01/2012
at 0:12