Publicado por: Rogério Tomaz Jr. | 10/01/2012

Relatório da Funai diz que morte de criança indígena é boato e assume negligência

Advertência preliminar a você que vai ler o texto abaixo:

– O Maranhão é berço de alguns dos melhores nomes da literatura brasileira. Gente como Aluísio de Azevedo, Gonçalves Dias, Ferreira Gullar e muitos outros que tão bem trataram a língua de Camões que adotamos. O relatório da Funai disponibilizado aqui é um verdadeiro atentado à nossa sagrada e amada Língua Portuguesa, mas não o tomem como representante de qualquer coisa referente ao Maranhão, que ostenta com orgulho o título de “Atenas Brasileira” atribuído à sua capital, a linda São Luís.

*****

Na noite desta segunda-feira (9), a Fundação Nacional do Índio (Funai) divulgou o relatório sobre a visita de campo que três de seus servidores – lotados no escritório do órgão em Imperatriz (MA) – fizeram ao município de Arame, região central do estado e palco de tensos conflitos entre indígenas e ruralistas.

Quem primeiro divulgou o relatório foi a Agência Matraca, que tem um excelente trabalho de divulgação e apoio às lutas de direitos humanos no Maranhão, principalmente nos temas dos direitos de crianças e adolescentes.

O documento traz uma “Nota de Esclarecimento” afirmando que a denúncia sobre o assassinato de uma criança indígena Awá-Guajá, numa reserva em Arame, não passa de “boato infundado, uma mentira”.

A nota e o relatório, em Português de quarta série do primário, desqualificam duramente a “ação dos aproveitadores inescrupulosos que se apressaram em tentar legitimar a mentira” e lamentam que “a sociedade brasileira tenha sido ludibriada de maneira tão vil”.

O órgão encerra sua ladainha dizendo que trabalha para “comprometido em atender a demanda indígena maranhense” e tenta “modificar a atual conjuntura de denúncias e notícias sem fundamento cuja motivação é eminentemente política”.

Pelo que diz o relatório, os técnicos da Funai – com nenhuma descrição de competência ou habilitação para procederem investigações acerca de crimes contra a vida – conversaram por algumas horas com Clóvis Tenetehara, liderança do povo guajajara, que tem contato esporádico com os grupos awá-guajá, e se deram por satisfeitos ao ouvirem deste indígena que não exista crime, corpo carbonizado e, muito menos, registros em fotos ou vídeos do mesmo.

Um único depoimento foi suficiente, segundo os “investigadores” da Funai, para se afirmar que “o suposto assassinato NÃO PASSOU DE UM BOATO INFUNDADO, UMA MENTIRA!” (caixa alta no original).

Além disso, os servidores do órgão registraram que flagraram um caminhão madeireiro circulando na área indígena apontada como local do crime contra a criança. A extração de madeira sem autorização é crime ambiental. Mas os funcionários da Funai não tomaram nenhum procedimento além de advertir o motorista do caminhão:

“Foi avisado ao motorista do caminhão sobre a ilegalidade das suas ações e as conseqüências, caso continue cometendo os mesmos ilícitos em terra indígena.”

Candidamente, o relatório de cinco páginas de texto diz, no seu penúltimo parágrafo:

“Constatou-se, sim, que o Estado, através dos amplos setores do Poder Público carece de um olhar mais acurado a todas as questões envolvendo o Meio Ambiente, sobretudo no que concerne à causa indígena”.

É de dar dó, especialmente quando se toma conhecimento dessa matéria no blog do Alceu Castilho:

Governo só liquidou 33% dos recursos para proteção de indígenas, diz o Cimi

Houve espaço até para cabotinismo no relatório: os servidores do órgão não tiveram constrangimento em elogiar o próprio trabalho.

“Nesse caso, gerador desse relatório, houve um trabalho sério, meticuloso, cansativo, de se buscar a realidade dos fatos.”

Quão maravilhoso seria se a Funai fosse sempre tão ágil, rápida e eficiente (?) para apurar casos como este e outros semelhantes tão comuns ao trágico cenário vivido pela maioria dos povos indígenas do Brasil.

Em resumo: a Funai afirmou enfaticamente que a denúncia não passou de uma mentira, desqualificou aqueles que a divulgaram (citaram alguns trechos do meu desabafo* que ganhou bastante repercussão) e ofereceu para a sociedade um relatório ilustra muito bem o significado do termo embromação.

Desejo – com todas as minhas forças – que o crime não tenha realmente acontecido e que tudo não passe de uma grande confusão informativa.

Entretanto, com esse relatório da Funai, que é também um atestado de negligência, fica difícil crer que a denúncia feita e confirmada por vários indígenas seja um mero boato.

Teria muito mais a falar sobre esse documento da Funai, mas já passam das 5h da madrugada e meu corpo pede um repouso, sobretudo depois de duas horas jogando basquete pouco antes de sentar para analisar esse relatório e escrever sobre ele.

Por fim, tenho certeza absoluta que o presidente da Funai, Márcio Meira, não irá gostar nem um pouco desse “relatório”. A ver.

Quero ver o que o Cimi e outras entidades que noticiaram o caso irão dizer sobre o relatório.

Agradeço especialmente à Luiza Reichow (http://luizawho.tumblr.com), ao Marcelo Arruda (http://transmitindoecomunicando.blogspot.com) e ao Raphael Tsavkko (http://www.tsavkko.com.br) por terem colaborado com a digitação do relatório da Funai, que está disponível para leitura abaixo em PDF (só texto) e em imagem (digitalizado do original).

Relatório da Funai/MA – PDF (33Kb)

[Apenas o texto]

Relatório da Funai/MA – JPG (zipado em RAR – 3,8Mb)

[Relatório original completo, incluindo anexos]

Confira abaixo o relatório original digitalizado (a Nota de Esclarecimento e o texto do relatório propriamente dito).

Clique para ampliar

Página 1 da Nota de Esclarecimento

Página 2 da Nota de Esclarecimento

Página 1 do relatório

Página 2 do relatório

Página 3 do Relatório


Respostas

  1. […] Leia o relatório da Funai sobre o caso – 09/01/2012 (clique aqui) […]

  2. Rogério,

    Só uma pergunta? Você está de bricandeira com nós, né? Isso não pode ser um relatório de um órgão federal. Quer nos pregar uma peça é? É brincadeira…

  3. Gente os funcionarios da funai, são pessoas mais mentirosas no brasil, fingem que não aconteceu, este indio clóvis deve ter recebido R$ 100.00 para falar que é uma mentira o assassinato deste indinho, aconteceu sim, sei muito bem como este funciionarios trabalham, falo assim por que também sou indígena da etnia xavante, vamos para com isso o atual presidente da funai tem sair logo e fiquem sabendo todos aqueles presidente da funai que maltratou os indios do brasil morreram e não vai ser diferente este marcio vai morrer tambem assim que sair, e vai se entender com Deus!!!
    podem escrever o que estou falando e memande depois as mensagens!!!
    abração fui!!!!

  4. […] relatório da Funai do Maranhão disponível no blog do Rogério Tomaz Jr. afirma que é boato. O blogueiro Rogério Tomaz põe em xeque a investigação da […]

  5. […] relatório da Funai do Maranhão disponível no blog do Rogério Tomaz Jr. afirma que é boato. O blogueiro Rogério Tomaz põe em xeque a investigação da […]

  6. Humm… então a FUNAI também faz perte do PIG. Faz todo o sentido.

  7. O que há de mais certo neste texto é que realmente os técnicos da Funai não tem competência ou habilitação para procederem investigações acerca de crimes contra a vida, isso é papel da Polícia! Mas como jornalista ou blogueiro nenhum quer desafiar a Polícia, aproveita do fato envolver um indígena pra criticar a Funai.
    Tem que bater na porta certa!!!!!!

  8. […] Rogério Tomaz Jr publishes [pt] the report made by the FUNAI (National Indian Foundation) on the alleged death of an 8 year […]

  9. […] blogueiro Rogério Tomaz Jr publicou o relatório feito pela FUNAI sobre o alegado assassinato de uma criança de oito anos da etnia […]

  10. Apenas uma pequena correção. No parágrafo:

    Além disso, os servidores do órgão registraram que flagraram um caminhão madeireiro circulando na área indígena apontada como local do crime contra a criança. A extração de madeira sem autorização é crime ambiental. Mas os funcionários do Incra não tomaram nenhum procedimento além de advertir o motorista do caminhão:

    Suponho que “do Incra” deve ser trocado por “da Funai”.

    • Obrigado pela correção, Ronilson.

    • Caro amigo, quero alertar-lhe sobre o que esses “ditos funcionários da FUNAI” fazem com os índios Guajajara, Corrompem os caciques e lideranças das Aldeias. Além disso, ameaça aqueles que são contrário a política Surja implantada há anos em Imperatriz. Cabe ressaltar ainda, que os mesmos são amissíssimos dos madereiros da região, aqueles madereiros que não contribue mensalmente aos corruptos da FUNAI são “caguetados” a Polícia Federal, presos e torturados

  11. Enquanto um jogava basquete as 5 da manhã, outros estavam indo trabalhar as 4… bom indicativo para identificar em quem confiar…
    O caminhão só poderia ser apreendido se transportasse madeira no momento da abordagem, o que não era o caso.
    Depois desta crítica sem fundamento do blogueiro, que mostra seu desconhecimento da lei…. fica ainda mais fácil de decidir em quem acreditar…

    • Não, camarada anônimo. Eu joguei basquete até as 22h. E começei a ler e escrever o post por volta de 2h. E, sim, tem muito jagunço matador de índio que sai para fazer o “serviço” bem cedo, ainda escuro mesmo.

  12. […] “relatório” (escrevi sobre ele aqui) feito pela coordenação regional da Funai em Imperatriz foi tão ruim, mas tão ruim, que a nota […]

  13. Meu caro Rogério,

    É uma pena que vossa senhoria classifique a “Nota de Esclarecimento” divulgada pela FUNAI como um atentado, entretanto, atentado maior foi praticado mesmo ao divulgarem estória tão absurda e descabelada sobre a suposta morte de criança indígena queimada na cidade de Arame-MA. É obvio que algumas agências de notícias se deliciam com tanto sensacionalismo, mas, infelizmente, estão na verdade, atentando contra a população aramense, estão colocando o povo aramense sob o julgo da sociedade e isto não merecemos, pois somos provas reais de que nada disto aconteceu, pois assim como tantos outros que recebemos tal notícia atraves do “Conexão Brasília Maranhão”, saimos em busca dos fatos através de contatos presenciais com líderes e chefes indígenas local e, constatamos as notícias divulgadas são irreais.
    Lhes afirmo com a convicção e respeito de morador há mais de 20 anos desta cidade maravilhosa, que faz, neste dia 17 de janeiro de 2012, seu 24º aniversário de emancipação política, e que, portanto, não merece em hipótese alguma, um presente tão funesto, e aqui estou mais uma vez para esclarecer aos leitores qão vulgar foi a divulgação desta triste e escabrosa mentira.
    Lamento amigo, mas é necessário que você aceite, mesmo que em Português de quarta série do primário (hoje, Fundamental), o relatório emitido pela FUNAI/MA, desqualificando esta “ação inescrupulosa em tentar legitimar uma mentira tão sórdida”. O povo aramense pode até ter sua fama de desordeiro, mas toda cidade possui um ou títulos que a qualifica ou as desqualificam, mas, quero que você saiba de uma coisa:
    AQUI NÃO SE QUEIMA ÍNDIO, NEM OUTRO SER HUMANO QUALQUER, pois valorizamos a vida em todos os aspectos, principalmente nos aspectos pessoais, morais e sociais, pois o povo aramense gosta de viver bem e, em paz.
    – LEMBREM-SE MENTIRAS TEM PERNAS CURTAS!

    Abraços a todos

    Jorge Alves
    Arame-MA

    • Lamento informá-lo, Jorge, que a Funai nacional não engoliu o “relatório” da Funai de Imperatriz e pediu ajuda da Polícia Federal para investigar o caso. O mesmo vai fazer o Ministério Público Federal. E tenho certeza que a população de Arame, onde já estive algumas vezes, não pode ser confundida com meia dúzia de ruralistas que não têm qualquer pudor em violar a Constituição e, muito menos, os direitos humanos dos índios e do povo aramense.

      • Sou morador desta cidade e concordo plenamente com a opinião do blogueiro. Contudo, essa violência com os indígenas do município desta cidade dificilmente vai acabar, haja vista a conivência de alguns funcionários da FUNAI em Imperatriz. Esses sabem de tudo, porém nada fazem para defender essa população carente e humilde do nosso município.

  14. […] Blogger Rogério Tomaz Jr veröffentlicht [pt] den Bericht, der von FUNAI (Nationale Stiftung der Indios) über den angeblichen Tod eines […]

  15. […] do escritório regional da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Imperatriz (MA), documento que foi questionado aqui no blog na mesma noite em que foi […]

  16. […] do escritório regional da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Imperatriz (MA), documento que foi questionado aqui no blog na mesma noite em que foi […]

  17. […] do escritório regional da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Imperatriz (MA), documento que foi questionado aqui no blog na mesma noite em que foi […]

  18. […] s’agace Rogério Tomaz. Mais cela n’arrivera pas.» Le lendemain, il se réjouissait sur son blog d’un autre rebondissement dans cette affaire qui enflamme la blogosphère*: le ministère public […]

  19. […] Relatório da Funai diz que morte de criança indígena é boato e assume negligência « Conexão B… Página 2 do relatório […]

  20. Olha, é sério que eles tiveram o espírito de porco de fazer um trocadilho ao dizer que a suposta denúncia causou um “incêndio” na internet? SÉRIO MESMO???????! Mesmo não tendo acontecido o crime, isso é de um mau gosto INACREDITÁVEL!

  21. só sei de uma coisa os fusionário da funai não trata bem os índio mestiço perincipalmente os verdadeiro isto sei porque sou indígena mestiça timbira da aldeia gerada toco preto


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