Em entrevista exclusiva para o Conexão Brasília Maranhão, o deputado federal Domingos Dutra (SDD-MA) fala sobre secretariado de Flávio Dino e expectativas para o governo após a acachapante derrota da oligarquia Sarney. Dutra será o secretário de Articulação Política do Maranhão em Brasília.

Na opinião do parlamentar, o governo Flávio Dino enfrentará graves problemas deixados pela oligarquia. Apesar disso, Dutra tem convicção de que o Maranhão vai “mudar a sua face” e voltará “a ser incorporado ao mapa do Brasil”.

Confira o vídeo da entrevista.

Domingos Dutra (Foto: Salu Parente/PT na Câmara

Domingos Dutra (Foto: Salu Parente/PT na Câmara

Publicado por: Rogério Tomaz Jr. | 10/12/2014

Sheherazade defende Bolsonaro e assume discurso usado por estupradores

Jair Bolsonaro não conta apenas com o apoio dos mais de 400 mil votos que lhe garantiram outro mandato na Câmara dos Deputados.

O brucutu com broche parlamentar tem vários defensores na grande mídia, especialmente entre os colunistas da direita hidrófoba que usa o mesmo discurso surrado da Guerra Fria para atacar o PT e qualquer coisa que venha da esquerda.

Rachel Sheherazade

Rachel Sheherazade, a jornalista (e funcionária fantasma de autarquia pública) que defendeu o justiçamento popular para adolescentes pobres e negros – mas não para o loirinho Justin Bieber ou para os traficantes que amarraram um jovem negro num poste do Rio de Janeiro – nos seus comentários no SBT é a uma das primeiras que aparece para proteger Bolsonaro depois da agressão que ele cometeu nesta terça-feira (9) na Câmara, quando disparou para a deputada Maria do Rosário (PT-RS): “Só não te estupro porque você não merece”.

Para Sheherazade, é “indefensável” o pronunciamento do ministro José Eduardo Cardozo, também nesta terça, sobre a Petrobras.

"Indefensável" para Sheherazade é defender a Petrobras... já Bolsonaro é bastante defensável

“Indefensável” para Sheherazade é defender a Petrobras… já Bolsonaro é bastante defensável

Já o episódio protagonizado por Bolsanaro, para Sheherazade (em seu blog), foi apenas um “bate boca” e uma “troca de grosserias” que ela considera “lamentável”.

Sheherazade defende Bolsonaro

Sheherazade defende Bolsonaro (clique para ampliar)

A única coisa que Sheherazade falou em defesa da deputada agredida foi o óbvio: “Nem Rosário, nem qualquer mulher merece ser estuprada”.

Para justificar a atitude do deputado fascista e desqualificar Maria do Rosário, entretanto, a jornalista não economizou os comentários, embora usando um vídeo de 2003, da primeira vez em que Bolsonaro falou sobre estupro para intimidar Maria do Rosário.

“Mas, Bolsonaro não disse que a estupraria. Mas, no vídeo da Rede Tv, fica claro que a dona Maria começou a provocação e, quando instigou à ira o seu oponente, não aguentou o tranco. Sem mais argumentos, acabou se vitimizando depois do episódio. A deputada deveria saber que, quem fala o que quer, ouve o que não quer”.

“Dona Maria”, no Nordeste e em boa parte do Brasil, é uma metáfora para dizer “fulano”, para se referir a alguém sem qualquer importância ou respeitabilidade.

É assim que Sheherazade trata uma mulher que foi agredida verbalmente na tribuna mais importante do Brasil.

Como também é assim que os estupradores (e seus defensores) desqualificam suas vítimas: ignorando suas vozes e transformando-as em responsáveis e culpadas pela violência que sofreram. “Ela mereceu”, “ela provocou”, “ela não se dá ao respeito”, “ela pediu” e por aí vai…

Se as palavras de Bolsonaro revoltam, o fato de uma mulher e jornalista – em tese, uma pessoa esclarecida – assumir a defesa desse escroque, assumindo o discurso padrão dos estupradores, é profundamente triste e me faz sentir vergonha alheia.

Sheherazade, Bolsonaro, Feliciano et caterva: juntos para não deixar a Idade Média ser varrida dos costumes ideias da sociedade brasileira do século XXI.

PS: Mais de 24 horas depois do ataque de Bolsonaro, NENHUM parlamentar do PSDB ou do DEM ou do PPS usou a tribuna para criticar o fascista ou para solidarizar-se com Maria do Rosário.

PS2: Atualização às 16h45 com post da revista Fórum:

“(…) Porém, o que chamou a atenção na publicação de Sheherazade foi o fato de ter divulgado uma notícia falsa para embasar seu ponto de vista. No texto, ela reproduziu uma nota do site de humorJoselito Muller, que atribuiu à Maria do Rosário a frase “Quem cometer um crime contra um gay merece a pena de morte”. O site é conhecido por inventar histórias para ironizar fatos cotidianos da política.

A notícia era tão absurda que dizia que a ex-ministra tentou despistar jornalistas fingindo estar em uma ligação. Porém, teria descoberto depois que o telefone era, na verdade, um controle remoto. “Mais uma vez, Rosário falou sem pensar”, escreveu a apresentadora sobre a confusão com Bolsonaro. Mas parece que a jornalista, apesar de bastante experiente, desta vez, foi quem publicou “sem pensar”.”

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Jornal Nacional censura agressão de Bolsonaro a deputada

Publicado por: Rogério Tomaz Jr. | 10/12/2014

Jornal Nacional censura agressão de Bolsonaro a deputada

Que Jair Bolsonaro tem seus defensores e fãs, ninguém questiona. Basta que a população tenha 10% de fanáticos fundamentalistas para que seres como ele, Marco Feliciano et caterva sigam exercendo mandatos parlamentares.

Jair Bolsonaro é ignorado pelo público durante sessão solene sobre os 50 anos do Golpe de 1964 (Foto: Antonio Augusto/Ag.Câmara)

Em abril passado, Jair Bolsonaro foi ignorado pelo público durante sessão solene sobre os 50 anos do Golpe de 1964 (Foto: Antonio Augusto/Ag.Câmara)

Daí a ser protegido pelo jornalismo da maior emissora do País são outros mil e quinhentos motivos para criticar a Rede Globo.

Nesta terça-feira (9), véspera do Dia Mundial dos Direitos Humanos, o fascista com broche de deputado voltou a soltar sua língua para destilar o ódio medieval. Afirmou, em plena tribuna da Câmara, que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) – que acabara de fazer um pronunciamento – porque ela “não merece”. Quem quiser conferir, o vídeo com a agressão está aqui:

O fato gerou revolta e protestos que dominaram o debate na Internet durante o resto do dia. A repercussão na imprensa foi proporcional à gravidade da ofensa, que não é inédita na carreira de Bolsonaro.

O mais surpreendente, entretanto, é o fato de o principal telejornal da Rede Globo, que alcança* em média 70 milhões de pessoas por noite, ter simplesmente IGNORADO o episódio, decisão editorial que equivale a um ato de CENSURA, sobretudo quando se olha a grade do JN desta noite: uma reportagem sobre o número crescente de viúvos e divorciados, por exemplo, ocupou TRÊS MINUTOS e cinco segundos do programa, mais de 10% do seu total.

Já o novo ataque de Bolsonaro não mereceu sequer uma nota dos apresentadores… merece ser ignorado pelos milhões de telespectadores do telejornal.

É com esse jornalismo que a Globo diz defender “intransigentemente o respeito a valores sem os quais uma sociedade não pode se desenvolver plenamente: a democracia, as liberdades individuais, a livre iniciativa, os direitos humanos (…)”, conforme prega o seu documento “Princípios Editoriais”.

PS: Nesta quarta-feira (1o), é grande a chance de o deputado André Vargas (sem partido/PR, ex-PT) ter o seu processo de cassação votado pelo plenário da Câmara. Veja quanto tempo este tema vai ganhar no Jornal Nacional….

Publicado por: Rogério Tomaz Jr. | 31/10/2014

Dores do parto de uma nova sociedade

Segue abaixo um artigo essencial para se entender não apenas as reações dos derrotados na última eleição presidencial, mas também para se compreender o processo político e social iniciado no Brasil em 2002.

Foi publicado no Valor Econômico na sexta-feira, 31 de outubro, apenas para assinantes. Por isso republico aqui.

Dores do parto de uma nova sociedade

[Alberto Carlos Almeida*]

Alberto Carlos Almeida foi profundo e preciso neste artigo

Alberto Carlos Almeida foi profundo e preciso neste artigo

Aprendi com Alexis de Tocqueville e Roberto DaMatta que uma sociedade democrática é aquela em que os homens são parecidos em sua maneira de agir, de pensar e em suas ambições, em que não há grande diferença entre ricos e pobres, e o acesso aos bens e a possibilidade de tê-los é mais ou menos a mesma para todos. Segundo Tocqueville, um dos sinais do caráter democrático da sociedade americana era que, lá, todos se tratavam pelo pronome “you”, e não se usavam os pronomes de tratamento gentleman, Mister ou Sir. Os EUA sempre foram o oposto do Reino Unido, onde até hoje a formalidade marca as relações pessoais. Quanto mais igualitária uma sociedade é, segundo Tocqueville, menor os sinais de diferenciação entre os homens.

Roberto DaMatta, mostrei isso em meu livro “A Cabeça do Brasileiro”, é o Tocqueville brasileiro. Sua obra irretocável e paradigmática tem vários ensinamentos para os interpretes do Brasil. Uma das mais importantes é o caráter hierárquico de nossa sociedade. No Brasil, todos querem saber o sobrenome de novos conhecidos, sua origem social (é bem verdade que esse comportamento já foi mais disseminado). Nos EUA, ninguém pergunta de qual família você é. Isso não importa, pois a origem social de todas as pessoas é muito semelhante.

DaMatta consagrou o caráter hierárquico de nossa sociedade ao revelar e interpretar o uso da expressão “você sabe com quem está falando?” Para muitos, é a chamada carteirada. É, porém, mais que isso. A expressão é utilizada em uma situação de grande desnível social, quando alguém importante, influente ou que conhece uma pessoa no governo, interage com outra pessoa sem tais credenciais e deseja evitar cumprir uma regra geral e universal. A expressão “você sabe com quem está falando?” só faz sentido e tem aceitação em sociedades muito desiguais, nas quais a ética igualitária seja fraca. A expressão oposta, utilizada nos EUA, uma sociedade genuinamente igualitária, é “quem você pensa que é?”. O Brasil é o país do que “você sabe com quem está falando” e os EUA, o país do “quem você pensa que é?”. O primeiro é muito desigual, o segundo é muito igualitário.

O Brasil, porém, está em transição. Os anos passam e o país se torna cada vez mais americanizado, no sentido social da expressão. Sim, quando se define sociedade democrática, à maneira de Tocqueville e Roberto DaMatta, não se está falando de democracia política, mas de democracia na sociedade, de aburguesamento geral dos indivíduos. Com o passar do tempo e à medida que melhoram de vida, todos se tornam pequenos proprietários, de suas residências, de seus automóveis, passam a preferir previsibilidade e contínua expansão de sua capacidade de consumo.

É isso que está ocorrendo hoje no Brasil e que incomoda enormemente um segmento que não se sente representado pelo PT na Presidência da República. Afinal, para esse segmento, em breve serão 16 anos consecutivos sem que o comando máximo da nação seja exercido por uma pessoa que o represente. É doloroso. O resultado concreto disso é mais doloroso ainda.

Trata-se de demandas inconfessáveis, mas há aqueles que lamentam, por exemplo, o aumento do poder de barganha das empregadas domésticas. É inconfessável querer que as empregadas não aumentem seu poder de barganha. Ano a ano, pouco a pouco, fica distante a época em que elas ou não tinham nenhum direito, ou eles existiam, mas não eram cumpridos. Isso incomoda, e muito, eleitores que não gostam nem um pouco do PT.

No Rio de Janeiro dos anos 1980, bastava que um adolescente fosse aluno de escolas como Santo Inácio, Santo Agostinho, São Bento ou Andrews para ter totais condições de passar para o curso de graduação de medicina da UFRJ. Era um clubinho. Quem era amigo e conhecido nessas escolas continuaria amigo e conhecido nas salas de aula da Ilha do Fundão. Isso acabou, não há mais um mísero sinal dessa época. Os alunos do curso de medicina mais procurado do Rio de Janeiro são oriundos de todos os lugares do Brasil e das mais diferentes escolas. O mesmo ocorreu no curso de medicina da USP e na capacidade que os principais colégios de São Paulo tinham de enviar alunos para lá. Ou seja, a sociedade brasileira se democratizou fortemente nos últimos anos. E isso foi feito criando-se vencedores e perdedores. Perderam os que faziam parte do clubinho, ganharam os que estavam fora dele.

As dores do parto de uma sociedade democrática e igualitária, à semelhança dos EUA, tem sua melhor expressão na radicalização de alguns setores de classe média alta contra o PT. Pedidos de impeachment, gritos de “fora Dilma” no dia da eleição, ataques dirigidos aos nordestinos e seu comportamento eleitoral, brigas de familiares em grupos de whatsapp, pessoas que rompem amizades no Facebook são sintomas do mesmo fenômeno. A pirâmide está deixando de ser pirâmide e os que ocupam sua parte superior resistem, gritam, reclamam, manifestam-se. Ótimo, isso é parte da democracia.

As dores deste parto foram maiores agora por causa do baixo crescimento econômico. No fim dos dois governos Lula, o processo eleitoral foi menos radicalizado porque o crescimento do último ano anestesiou a todos, inclusive os que tinham todas as razões para gritar. Cá entre nós, a metáfora médica é perfeita: com a anestesia do crescimento econômico, parte de uma sociedade igualitária ficou mais tolerável.

Em 2104 isso não aconteceu. Quando se trata de sociedades e da história, algumas mudanças levam décadas. Assim, o parto continua, só que este ano foi sem anestesia e, por isso, quase foi interrompido.

Não há política econômica neutra. Ela sempre implica em ganhadores e perdedores. Há os que ganham mais e os que ganham menos. Em algumas situações, há os que perdem. A grande ganhadora da política econômica do PT é a base da pirâmide social, os mais pobres. Em particular, aqueles que moram no Nordeste. Foram eles que repetiram seu voto. A proporção de votos dados a Dilma no segundo turno de 2014 foi apenas um pouco maior do que no segundo turno de 2010. O eleitor do agreste ou do sertão nordestino, pobre, é tão racional quanto o eleitor de classe média alta que habita a Mesopotâmia paulistana, isto é, que, como eu, mora na estreita faixa de terra delimitada pelos rios Pinheiros e Tietê. A diferença entre é que os primeiros foram claramente beneficiados pelas políticas adotadas pelo PT e os últimos foram os grandes prejudicados, tal como é possível observar nas turmas de medicina da USP.

O Brasil segue em frente. Isso é a democracia. Eleições existem para manter ou mudar o governo. Desde 2002, a maioria do eleitorado vem escolhendo um determinado conjunto de políticas. Nada é eterno. É impossível dizer quantas eleições mais o PT vencerá. É impossível afirmar que o partido de Lula e Dilma perderá a próxima. Tudo depende, como sempre, do desempenho da economia e, sejamos repetitivos, da avaliação do governo no ano da eleição.

O fato é que nosso sistema funciona, e bem. Tão bem que as dores do parto vêm sendo ouvidas por todos. Tão bem que essas dores podem se revelar com toda sua crueza para uns, e com sua justiça para outros. Depende sempre do ponto de vista.

Passada a eleição, é hora de o governo governar e também é chegada a vez de a oposição fazer oposição. O sucesso do sistema político depende de governo e oposição. Neste momento, torcer pelo Brasil é desejar que os dois lados, o vencedor e o derrotado de 2014, cumpram seus respectivos papéis, realizem o que deles se espera.

*Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de “A Cabeça do Brasileiro”.

alberto.almeida@institutoanalise.com / www.twitter.com/albertocalmeida

Publicado por: Rogério Tomaz Jr. | 24/09/2014

Corações partidos numa quase tragédia com crianças em Brasília

“Escutei o barulho do 28º andar [do Anexo I da Câmara]”, me disse um dos brigadistas da Câmara que socorreu crianças e professoras da Escola Classe 10 de Ceilândia, maior cidade satélite do Distrito Federal, após uma colisão do ônibus que as conduzia num passeio cívico.

Na Esplanda dos Ministérios, por volta das 14h30 desta terça-feira (23), o veículo escolar acertou em cheio a traseira de um ônibus do sistema de transporte público, exatamente na frente do Congresso Nacional.

O coletivo foi atingido quando diminuiu a marcha para aguardar a saída de um carro da fila de estacionamento do lado direito da via. Testemunhas que estavam na parada de ônibus e viram o acidente afirmam que o veículo que levava as crianças estava em alta velocidade. Funcionários da Câmara (alguns da Liderança do PT) disseram ter ouvido um barulho fortíssimo do impacto e logo correram para descobrir o que havia acontecido. Acabaram participando do socorro às vítimas, que foram atendidas no serviço médico da Câmara.

A maioria das crianças usava cinto de segurança e não houve ferimentos sérios. Apenas uma professora, que estava em pé no ônibus, monitorando os alunos. sofreu uma leve fratura no nariz.

Apesar de nenhuma consequência grave, foi de partir o coração ver as crianças assustadas e chorando, ainda que certamente aliviadas.

Não consegui apurar o que houve (e confesso que nem me esforcei muito) com o motorista responsável pela quase tragédia. Mais tarde, pelo noticiário, soube que o ônibus escolar estava com a documentação irregular desde 2012.

Pelas extensas marcas de freios, ou o ônibus vinha em altíssima velocidade ou os freios não funcionaram ou ocorreram ambas as situações.

Já é conhecida a prática de ônibus escolares descerem muito embalados o declive na Esplanada na altura do Congresso, gerando a sensação de borboletas no estômago, o que seria uma “diversão” para as crianças. Esperemos que esse acidente sirva de lição.

Crianças com saco de gelo na cabeça saem do atendimento médico na Câmara (Foto: Rogério Tomaz Jr.)

Crianças com saco de gelo na cabeça saem do atendimento médico na Câmara (Foto: Rogério Tomaz Jr.)

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Ônibus que foi atingido pelo veículo escolar (Foto: Rogério Tomaz Jr.)

Marcas de freio no asfalto (Foto: Rogério Tomaz Jr.)

ônibus escolar teve a frente destruída (Foto: Rogério Tomaz Jr.)

imprudência? (Foto: Rogério Tomaz Jr.)

Publicado por: Rogério Tomaz Jr. | 10/09/2014

Marina Silva e sua lógica econômica bipolar

Marina Silva tem feito duras críticas à condução da economia brasileira pelo governo Dilma e diz que o Brasil “estagnou”.

Nos últimos dias, a candidata do PSB também vem criticando o maior lucro bancário da história, ocorrido durante o governo atual, como demonstra a ilustração abaixo, divulgada na página do Facebook. O curioso dos dados é que, no caso de FHC e Lula, foram somados apenas os lucros dos nove maiores bancos. Já no período Dilma, é usado o lucro total das instituições financeiras.

Será que Marina considera pecado o lucro?

Será que Marina considera pecado o lucro?

Afinal, o que Marina pretende fazer em consequência dessas críticas, se for eleita? Ela vai aumentar a tributação do sistema financeiro para diminuir o lucro dos bancos?

E se a economia vai tão mal, como Marina afirma, como é que os bancos conseguem lucrar tanto? Plantando ouro em Marte? Vendendo terrenos nas luas de Saturno?

Ora, o Brasil não fez nenhuma mudança recente na legislação para favorecer os bancos. Ao contrário. Se estão lucrando em níveis recordes, certamente a economia real, cotidiana, tem influência nisso.

A verdade é que os bancos lucram muito porque a economia vive um bom momento, com níveis recordes também de desemprego, juros baixos, poupança interna, investimento estrangeiro direto, crédito imobiliário e crédito geral, exportações, reservas internacionais e outros indicadores do ambiente econômico que, goste-se ou não, robustecem o sistema financeiro.

Se Marina não vai aumentar a taxação dos bancos – é mais fácil o Aécio Neves se filiar ao PSTU! – e das demais instituições financeiras, ela precisa dizer abertamente ao eleitorado por que razão o lucro recorde dos bancos é ruim para o País. Será que ela considera pecado o lucro elevado?

Em discurso na Câmara, nesta quarta-feira (3), o deputado federal Amauri Teixeira (PT-BA) explicou por que a presidenta Dilma Rousseff não foi à entrevista do Jornal da Globo esta semana.

“A Presidenta Dilma não foi à Globo porque não quer ser desrespeitada. Aquilo não é entrevista, é inquérito policial, é desrespeito. Na última vez que a presidenta Dilma foi à Globo, o Sr. William Bonner falou 21 vezes durante a entrevista”, disse Amauri.

O parlamentar baiano ironizou o PSDB – “os tucanos estão desesperados, já estão fora da corrida presidencial” – e parabenizou Dilma pela atitude. Além disso, o petista e ainda mandou um recado para a Rede Globo e os demais grandes meios de comunicação do Brasil, onde seis famílias controlam praticamente 90% do que é visto, lido e ouvido na mídia nacional, fato que viola flagrantemente o artigo 220 da Constituição Federal.

“Nós não vamos para lá para inverter as coisas, ou seja, o entrevistador virar entrevistado. A Presidenta Dilma não vai se sujeitar a esse trabalho em que a Globo faz papel de oposição. Parabéns, Presidenta Dilma, por se fazer respeitar! A Globo não manda no Brasil e não vai mandar. Nós vamos democratizar os meios de comunicação”, afirmou.

Assista ao vídeo do pronunciamento completo.

Amauri Teixeira (Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara)

Amauri Teixeira (Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara)

Publicado por: Rogério Tomaz Jr. | 29/08/2014

Boaventura de Sousa Santos: Marina é uma cara nova para a direita

A entrevista da Folha de São Paulo é de outubro de 2013, mas vale a pena relê-la agora, especialmente para quem diz, pelo menos da boca pra fora, que Marina é uma alternativa de esquerda. Destaques meus.

Folha de SP: A ex-ministra Marina Silva tem um discurso mais próximo desses segmentos que o senhor mencionou, meio ambiente, indígenas. Ela serve para a esquerda?

Boaventura: Eu penso que não. Sou amigo da Marina Silva, estive em vários painéis com ela e comungo com ela muitas causas ambientalistas. Mas acho que não porque a influência religiosa no país iria nitidamente continuar a desequilibrar. A dimensão religiosa que está por trás dela é uma dimensão que, no meu entender, tem mais um potencial conservador do que um potencial da Teologia da Libertação.

Portanto é um potencializador de uma interferência conservadora na sociedade. Isso pode ter outras dimensões para os direitos das mulheres, dos homossexuais, para as diversidades sexuais.

Por outro lado, sua política econômica, por aquilo que tenho visto e pelos apoios que ela recorre, é realmente uma tentativa de, com uma cara nova, uma mulher, repor o sistema que estava antes. Seria desacelerar ainda mais as políticas de redistribuição social que foram aquelas que, no meu entender, mais caracterizaram o período Lula. Não penso que a Marina Silva esteja muito sensível a isso tudo.

Então eu penso que ela é uma cara nova para a direita. Não é uma cara para a esquerda, no meu entender.

Boaventura sobre Marina: cara nova

Boaventura sobre Marina: “cara nova para a direita”

Sem mais.

Link para a entrevista na íntegra:

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1362319-dilma-tem-grande-insensibilidade-social-diz-guru-da-esquerda.shtml

***

LEIA MAIS:

Marina Silva quando senadora: liberar transgênicos é “canoa furada” para garantir “lucro imediato de meia dúzia”

Campanha de Marina diz que Feliciano na CDHM foi uma “concessão do PT”

No dia em que muita gente – por má fé ou por equívoco – atacou Marina Silva por supostamente “explorar” politicamente a morte de Eduardo Campos, suposição da qual seriam “provas” as fotos onde ela aparece sorrindo, a defendi e até disse que era desonestidade afirmar que ela estava contente com a tragédia.

Recebi muitas críticas por defendê-la, mas não recuei um milímetro.

Agora, me deparo com uma desonestidade abjeta que a campanha da candidata do PSB está divulgando na internet. Num site (http://marinadeverdade.strikingly.com) feito divulgar “a verdade” sobre as posições de Marina Silva em relação a questões polêmicas, está dito que a nomeação do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara foi “uma concessão do PT”.

Marina sobre Feliciano: a culpa é do PT

Marina sobre Feliciano: a culpa é do PT

Sim. Os marineiros tiveram coragem de dizer que a indicação do PSC – que possuía em 2013 uma bancada de 16 deputados – para presidir a comissão que o partido escolheu foi uma “concessão” do PT.

Ou seja, para a turma de Marina Silva, o fato de um racista e homofóbico notório ter sido escolhido pelo seu partido para presidir uma comissão no Congresso Nacional era responsabilidade do PT!

Entre 1995 (quando o petista Nilmário Miranda propôs a criação da CDH) e 2012, o PT havia presidido a comissão em DOZE dos quinze anos da existência do órgão.

Mas quando a bancada petista resolveu presidir comissões que estavam completamente dominadas pela direita – Relações Exteriores e Seguridade Social (que debate projetos da Saúde) – e que não eram presididas pelo PT há vários anos (Seguridade Social, desde 2003!!!), a culpa do PSC indicar Marco Feliciano foi (segundo os marineiros) do PT…

As tentativas de reescrever a história por iniciativa de governos autoritários já foram devidamente repudiadas pela literatura, pela história e pelo debate político. E quando isso ocorre com uma postulante à presidência da República?

É Marina... assim fica difícil te defender...

É Marina… assim fica difícil te defender…

PS: No site sobre as polêmicas há várias outras “posições” curiosas de Marina Silva. Sobre o aborto, ela se resume a reafirmar a legislação existente (que é repressora às mulheres) e reconhecer “que existem argumentos relevantes dos dois lados da discussão e respeito as pessoas que têm posições diferentes da minha”, embora ela não diga qual é a sua posição.

Além disso, em relação a luta pela reforma agrária, Marina diz que é legítima, “mas a forma de lutar por ela não pode extrapolar o Estado Democrático de Direito”, numa clara crítica às ocupações de terra.

No caso da descriminalização da maconha, Marina diz apenas que um plebiscito é “o primeiro passo para avançar no debate”, ou seja, novamente não afirma nenhuma posição.

“Há uma lenda de que eu sou contra os transgênicos, mas isso não é verdade”.
Marina Silva no Jornal Nacional, terça-feira, 28 de agosto de 2014

A personagem que Marina Silva tenta compor no presente momento, em que disputa a presidência da República pelo PSB, não se sustenta a uma simples pesquisa nos arquivos do Senado Federal.

Enquanto exerceu o mandato de senadora pelo PT do Acre, Marina usou a tribuna da Câmara Alta para expressar as posições do movimento ambientalista e de setores da sociedade que enfrentam o modelo do agronegócio baseado no latifúndio e na monocultura – modelo que, hoje, parece não ser nenhum problema muito grave para a candidata do PSB, que avalia que “apenas uma parte” do agronegócio constitui ameaça ao meio ambiente.

Marina Silva no Senado

Em março de 2002, Marina fez um pronunciamento (clique aqui) em que citou seis vezes, sempre de forma crítica, a Monsanto, maior multinacional do comércio dos organismos geneticamente modificados (OGM), os chamados transgênicos. Naquele momento, a senadora defendia a proibição, chamada de “moratória”, do plantio de transgênicos no Brasil. O seu atual companheiro de chapa, Beto Albuquerque, era um dos maiores defensores da Monsanto na Câmara dos Deputados. Para Marina Silva, o Brasil poderia ser “a alternativa não-transgênica” no cenário agrícola internacional. Ela também criticava os setores empresariais que tinham a soja transgênica como “panaceia” para a exportação e afirmava que predominava no Brasil “a antiga visão do colonizado, que abaixa a cabeça na frente do colonizador”. Confira [destaques meus]:

Se já temos um mercado que está completamente contaminado pelos transgênicos – no caso da Argentina, a produção é de 100%; e dos Estados Unidos, do Canadá e da China são altamente elevadas –, o Brasil seria a alternativa não-transgênica que poderia ocupar tranquilamente aqueles campos que hoje, em termos de mercado, estão dispostos a declarar a moratória em relação aos transgênicos – no caso, o Mercado Comum Europeu e, parece-me, o Japão. Se contaminarmos a nossa produção de grãos, sobretudo a soja, estaremos perdendo essa oportunidade. Não me causa nenhum tipo de estranhamento que a Monsanto esteja tão ansiosa por essa liberação. O que me causa certo estranhamento é a posição do Governo brasileiro de não pensar, estrategicamente, no interesse de nosso País. O que me causa mais espanto ainda é o fato de a classe empresarial, sobretudo os produtores de soja, também não ficar atenta a esse aspecto e falar da soja transgênica como se ela fosse a panaceia para os nossos problemas de produção de grãos para exportação. Na verdade, poderíamos apropriar-nos desse diferencial de qualidade para competir com aqueles que já não têm essa possibilidade, como os Estados Unidos, o Canadá, a China e a Argentina.  Temos a antiga visão do colonizado, que abaixa a cabeça na frente do colonizador e, mesmo quando sabe que algo não dará certo, é obrigado a fazer isso somente para prestar um serviço ao senhor. Com todo respeito àqueles que defendem no Congresso Nacional a soja transgênica, faço este registro, porque, muitas vezes, somos rotulados de atrasados e acusados de não querermos que o País se desenvolva (…)”.

No discurso, a hoje candidata à presidência usou até trechos de um artigo de Eduardo Galeano para atacar a indústria agroquímica. E não deixa de tocar na esfera religiosa, que, como se sabe, está intimamente enraizada no seu pensamento.

“O admirável pensador uruguaio Eduardo Galeano reflete com genialidade sobre esse conflito globalizado pela indústria biotecnológica em um artigo publicado em novembro passado, intitulado: Quatro Frases que Fazem Crescer o Nariz de Pinóquio.

Os gigantes da Indústria Química (assim como os seus aliados, agentes governamentais e financeiros) fazem sua publicidade e lavam a sua imagem repetindo a palavra ecologia em cada página de seus informes e colorindo de verde os seus préstimos. (…) São todos ecologistas até que alguma concreta tenta limitar a liberdade de contaminação”. Quando isso ocorre, “(…) as empresas que envenenam o ar e apodrecem as águas arrancam subitamente suas recém-adquiridas máscaras verdes e gritam: “Os defensores da natureza são advogados da pobreza, dedicados a sabotar o desenvolvimento econômico e a espantar o investimento estrangeiro.

(…) 20% da humanidade comete 80% das agressões à natureza, enquanto a humanidade inteira paga pela conseqüente degradação da terra, a intoxicação do ar, o envenenamento da água, o enlouquecimento do clima e a dilapidação dos recursos naturais não renováveis.”
“Porém, os governos dos países do sul que prometem o ingresso para o primeiro mundo como mágico passaporte que nos fará a todos ricos e felizes, (…) sobretudo estão cometendo o delito da apologia ao crime. Porque este sistema de vida que se oferece como paraíso, fundado na exploração do próximo e na aniquilação da natureza é o que nos está adoecendo o corpo, nos está envenenando a alma e nos está deixando sem mundo.

É o que diz esse brilhante pensador, neste artigo. “Quatro frases que fazem crescer o nariz de Pinochio” fez uma abordagem muito interessante. Inclusive o Galeano, em seu artigo, faz uma referência dizendo que a “natureza está fora de nós”, fora dos seres humanos, ou seja, algo que nos é externo. Isso é muito interessante mesmo para uma reflexão do ponto de vista teológico”.

O final do discurso contrasta fortemente as posições hoje expressadas por Marina Silva.

Apenas ressalto que o Congresso Nacional não pode embarcar nessa “canoa furada”, acreditando que aprovar sem nenhum cuidado a liberação dos transgênicos é dar uma grande contribuição ao desenvolvimento econômico, à ciência, ao combate à fome e à pobreza. Essa medida pode ser adequada ao lucro imediato de meia dúzia de pessoas que gostariam muito dessa conseqüência, talvez sacrificando, como sempre digo, recursos de milhares de anos em prol dos lucros de apenas cinco ou dez anos“.

Quem vê Marina Silva na campanha atual, constata que ela mudou tanto quanto o Brasil nos últimos doze anos. No caso do País, as mudanças trouxeram avanços. No caso da postulante ao cargo mais alto da República, o retrocesso é visível e lastimável.

Marina Silva no Senado em 2002

Marina Silva no Senado em 2002

Clique no link abaixo para conferir a íntegra do discurso da senadora Marina Silva em 11 de março de 2002:

http://www.senado.gov.br/atividade/pronunciamento/detTexto.asp?t=322883

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