Publicado por: Rogério Tomaz Jr. | 20/12/2010

Sobre o debate Nassif, feminazis, Idelber e blogs progressistas

[Atualização, 12h55: incluí ao final do post o comentário que deixei no blog do Eduardo Guimarães, no post em que ele critica duramente o Idelber]

Publiquei o comentário abaixo no blog do Idelber Avelar (O Biscoito Fino e a Massa), acerca de um debate que tem envolvido — e, infelizmente, dividido — muita gente boa na blogosfera progressista (ou de esquerda, ou democrática ou como queiram chamar).

Ninguém quer isso, mas é inevitável e faz parte da democracia

Para resumir a história:

1. O Luís Nassif publicou um texto ultramachista, porém bem escrito, acreditando estar provocando o debate, quando, na verdade, estava dando espaço a teses conservadoras que mais caberiam no blog de gente como Reinaldo Azevedo et caterva:

http://www.brasilianas.org/blog/luisnassif/o-poder-das-mulheres

2. As reações foram inúmeras, variadas em motivos e duras, algumas excessivas, a meu ver (mas compreensíveis no contexto da dupla ou tripla opressão que as militantes sofrem cotidianamente, entre seus companheiros de luta). As melhores respostas ao erro do Nassif, na minha visão (que discorda de alguns pontos em ambas, na forma e/ou no conteúdo) são da Lola (aqui) e da Cynthia Semíramis (aqui).

Para resumir a minha posição: acho que o equívoco do Nassif foi lamentável, mas não o condeno ou deixo de considerá-lo respeitável por isso. E também acho que esse episódio não pode servir para colocarem a “blogosfera progressista” na alça de mira, muito menos de quem não se sente à vontade — o que é absolutamente legítimo — para colaborar com a árdua tarefa de construção/organização de um campo extremamente heterogêneo em todos os seus aspectos (lugares, orientações políticas e ideológicas, linguagens, práticas e métodos etc.), mas muito convergente nos seus objetivos.

Ademais, lembremos da querida Marilena Chauí quando diz que o conflito é inerente à democracia. Mas o desafio perene da esquerda é não permitir que conflitos pontuais destruam um projeto coletivo amplo.

Sigamos na luta. O I Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas foi um enorme sucesso e a segunda edição será maior e melhor ainda.

Segue abaixo o comentário que deixei no blog do Idelber.

http://www.idelberavelar.com/archives/2010/12/a_busca_incansavel_por_um_feminismo_docil_ou_nao_e_de_voce_que_devemos_falar.php

Caro Idebel, texto rico, como sempre. Mas você foi injusto na crítica ao campo que se denominou de progressista num encontro nacional que reuniu mais de 300 blogueir@s das mais diversas procedências geográficas, políticas e ideológicas. Por não ter participado do evento, especialmente do debate sobre a definição do “nome” do campo, você também patina. A discussão que acabou definindo o termo “progressista” para nos identificar foi dura, extensa e tensa. Entre as propostas alternativas, havia, sim, a ideia de se cunhar o grupo de “blogs de esquerda”, bem como “blogs democráticos” e outras sugestões menos acolhidas. Diante da imensa heterogeneidade – a qual você não pode sequer fazer ideia, pois não esteve lá – do encontro, ficou nítido que o termo mais agregador, com todos os seus problemas, seria “progressista”. Eu mesmo me manifestei expressando minha divergência político-ideológica com o termo, mas que considerava necessário e pertinente abrirmos mãos de convicções individuais para chegarmos a um termo que, embora trouxesse inúmeros problemas (como todos os outros trariam), fosse o mais adequado para demarcarmos nosso campo político. Na minha fala eu disse enfática e explicitamente: – Eu não sou progressista, eu sou comunista! – o que até levou várias pessoas a me perguntarem se eu era filiado ao PCdoB (sou petista, do campo da esquerda, na verdade). Esse debate provavelmente será retomado no próximo encontro nacional de blogs e mesmo antes já despertou desdobramentos positivos. Por exemplo, no Maranhão, o campo dos blogueiros e tuiteiros progressistas especificou o que para eles está nesse campo: (1) defesa incondicional dos direitos humanos; (2) defesa da democratização da comunicação em todos os seus aspectos e (3) defesa das lutas sociais que visam a libertação do Maranhão das mãos da oligarquia. Por fim, concernente ao tema desse post, você também foi injusto e impreciso ao associar o equívoco de alguns “blogueiros progressistas” ao conjunto do campo. Muitos – entre os quais me incluo – integrantes do campo de blogs progressistas são ativistas e defensores do feminismo (e, também, das militantes feministas) e não são merecedores de sua crítica generalista. Abrs e sigamos no debate e na luta!

Rogério Tomaz Jr. em dezembro 20, 2010 11:16 AM

PS: Juro por Jah que até amanhã publicarei as fotos que fiz do Encontro. Basta o Flickr renovar a minha conta pro e liberar o espaço.

Comentário no blog do Eduardo Guimarães:

http://www.blogcidadania.com.br/2010/12/a-quem-interessa-desagregar-a-blogosfera

Caro Eduardo, entendo suas ponderações, mas acho que você exagera ao acusar o Idelber de querer desagregar a blogosfera. Ele fez as críticas dele (das quais discordo em parte e explicitei em comentário no post dele e no meu blog – http://bit.ly/feminassifblogs ), mas não consigo enxergar qualquer tentativa de divisionismo nas palavras dele. O conflito faz parte da democracia e ainda mais num espaço tão aberto e diversificado como a blogosfera. É direito legítimo dele discordar, criticar e não querer se alinhar ao campo que chamamos de “blogosfera progressista”, tanto quanto são legítimas as reações (como a sua) que discordam dele, mas não vamos enxergar chifre em cabeça de cavalo por conta de coisas que não gostamos de ouvir/ler. Abrs


Respostas

  1. Sabias palavras, Cumpa!

  2. Ufa, muito bom! Todo mundo errou e pronto, bola pra frente.

    Sobre “progressista”: ex-comunista, hoje sou tipo esquerdopata anarquizante, no sentido de que em economia quero Estado máximo e no social, liberdades extremas. Então, progressista também é pouco pra mim, mas engulo. E imagino o que não custou chegar a essa palavra limitada.

    Você é um cara legal, Rogério, parabéns!

    • Obrigado, Marinilda. Realmente, foi um caminho difícil e espinhoso até chegarmos ao nome. Existiam também as sugestões de “libertários”, “independentes”, “autônomos” e por aí vai…

  3. adorei a foto!

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