Publicado por: Rogério Tomaz Jr. | 26/05/2011

Grotesco: ruralistas debocham de assassinato de ambientalistas

A Carta Capital registrou em seu site. “Grotesco” foi o termo utilizado pelo deputado Sarney Filho (PV-MA) para se referir às vaias que recebeu da claque ruralista quando anunciava na tribuna o assassinato de dois ambientalistas do Pará.

Em média, pelo menos um líder sindical ou militante de movimento social é assassinado a cada semana no Brasil.

O número resulta de fatos completamente ignorados ou minorizados pelos grandes meios de comunicação. Neste caso, pode-se dizer que a mídia comercial é o pano que limpa as impressões digitais (dos jagunços do agronegócio) na arma do crime.

Na história recente, os dois únicos casos que tiveram a devida repercussão — isso apenas porque geraram reações internacionais — foram os assassinatos do seringueiro Chico Mendes e da missionária estadunidense Dorothy Stang. A esses somam-se o Massacre de Eldorado dos Carajás e as chacinas de Unaí e Felisburgo.

A repercussão midiática nestes poucos casos, porém, não foi suficiente para garantir a Justiça. Outra matéria da Carta Capital traz números sobre a impunidade da turma dos barões do latifúndio:

“Nos últimos 25 anos, 1.614 pessoas foram assassinadas no Brasil em decorrência de conflitos no campo. Até hoje, apenas 91 casos foram julgados – e resultaram na condenação de 21 mandantes e 72 executores. Isso significa que a Justiça no Brasil levou às grades um criminoso para cada 17 pessoas assassinadas em todos esses anos.”
Clique aqui para ler a materia na íntegra (destaque meu)

Tão acostumados à impunidade e à baixa repercussão de seus atos criminosos, os ruralistas banalizaram a violência e o anúncio do assassinato de ambientalistas foi motivo para deboche.

A vaia não era apenas para o deputado e o anúncio que este fazia. Era, sobretudo, para a luta que movimentos sociais e entidades da sociedade civil travam no dia a dia contra a razão das armas e do dinheiro (que compra até comunista).

O caso me faz pensar em uma pergunta para a qual é difícil encontrar resposta racional: que tipo de pessoa é capaz de se comprazer com o assassinato covarde de alguém.

Não basta matar, tem que vaiar.

Assista ao vídeo abaixo e confira as vaias a Sarney Filho enquanto ele denunciava o assassinato de José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa, Maria do Espírito Santo, executados em Nova Ipixuna, sudeste do Pará, por pistoleiros a soldo da turma que agora trata um deputado comunista como herói.

Ruralistas vaiam anúncio de morte de ambientalista

Abaixo reproduzo a matéria de Daniela Chiaretti, do Valor Econômico, sobre o episódio.

PS: Esse post eu dedico ao Paulo Henrique Amorim e ao seu Conversa Afiada, que viraram defensores tardios dos ruralistas e papagaios dos pseudonacionalistas.

Valor Econômico – Política – 25/05/2011

Ruralistas vaiam anúncio de morte

Daniela Chiaretti | De São Paulo

Era perto das 16h quando uma cena grotesca aconteceu no plenário da Câmara dos Deputados. O líder do Partido Verde, José Sarney Filho, lia uma reportagem sobre o extrativista José Claudio Ribeiro da Silva, brutalmente assassinado pela manhã no Pará, junto com sua mulher Maria do Espírito Santo da Silva, também uma liderança amazônica. Ao dizer que o casal que procurava defender os recursos naturais havia morrido em uma emboscada, ouviu-se uma vaia. Vinha das galerias e também de alguns deputados ruralistas.A indignidade foi contada no Twitter e muito replicada. “Foi um absurdo o que aconteceu”, diz Tasso Rezende de Azevedo, ex-diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro. “Ficamos estarrecidos”.

O assassinato de Zé Claudio, como era conhecido, e de Maria do Espírito Santo aconteceu às 7h da manhã, a 50 km de Nova Ipixuna, sudeste do Estado, na comunidade de Maçaranduba. “Eles vinham no carro deles, indo para a cidade. Tinha uma ponte meio danificada no igarapé. Ele desceu para ver e ali foi a emboscada”, conta Atanagildo Matos, diretor da regional Belém do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, o ex-Conselho Nacional dos Seringueiros. Zé Claudio foi morto fora do carro, Maria foi baleada dentro do veículo. Uma orelha foi arrancada pelos pistoleiros, conta Atanagildo, o primeiro a ser avisado por Clara Santos, sobrinha de Zé Claudio.

O casal vinha sofrendo ameaças desde 2008. “É um área muito tensa, que vinha sofrendo muita pressão de madeireiros e carvoeiros”, conta Atanagildo. “Era a última área da região com potencial florestal muito bom. Zé Claudio e Maria resistiam muito ao desmatamento.” Os dois viviam em Nova Ipixuna há 24 anos, em um terreno de 20 hectares no Projeto de Assentamento Agroextrativista (Paex) Praialta- Piranheira, às margens do lago de Tucuruí. Extraíam óleo de andiroba e castanha. Em palestra em novembro, no evento TEDx Amazônia, Zé Claudio denunciava o desmate. “É um desastre para quem vive do extrativismo como eu, que sou castanheiro desde os 7 anos da idade, vivo da floresta e protejo ela de todo jeito. Por isso, vivo com a bala na cabeça, a qualquer hora”.

Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência estava no Fórum Interconselhos quando um dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) deu a notícia. Foi ao Palácio, relatou à presidente Dilma Rousseff e ela determinou ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo que a Polícia Federal apure o assassinato dos sindicalistas.


Respostas

  1. Não basta matar, tem que vaiar.

    Isso já basta como sintomática da cambada que ocupa o Congresso apenas para defender seus interesses e o de seus financiadores.

  2. […] Conexão Brasília Maranhão lê-se a frase: “Não basta matar, tem que vaiar”. Segundo Rogério Tomaz Jr., as vaias se devem ao fato dos ruralistas estarem muito “acostumados à impunidade e à baixa […]

  3. sao um bando de pau de arara covardes que nao tem coragen de mostrar o rosto preferem mandar alguem fazer o seu trabalho sujo pessoas como esse casal sao os verdadeiros herois que mostrao o rosto e denunciam os verdadeiros covardes pau de araras cade sua coragem destroem a floresta que vao deixar para seus filhos e netos vao deixar o nada o nada que voces sao

  4. […] blog Conexão Brasília Maranhão lê-se a frase: “Não basta matar, tem que vaiar”. Segundo Rogério Tomaz Jr., as vaias se devem ao fato dos ruralistas estarem muito “acostumados à impunidade e à baixa […]

  5. […] “Não basta matar, tem que vaiar” (Do not just kill, you have to heckle). According to Rogério Tomaz Jr., the heckling is because the ruralists are very “used to impunity and to low impact of their […]

  6. ” ..Não basta matar , tem que vaiar” !!
    são pessoas covardes , sem o menor nivel de inteligencia, broncos etc
    Tenho vergonha de dizer que sou brasileira !! …
    No COMMENT !!!!

    “I WANTED TO BE A CURIOUS PERSON, KEEPING EVER A HUMILITY. GIVEN THE EXTENT OF OUR IGNORANCE. WHY WE CAN JUST BE A HISTORICAL ACCIDENT!!!!”

  7. […] “Não basta matar, tem que vaiar” (Do not just kill, you have to heckle). According to Rogério Tomaz Jr., the heckling is because the ruralists are very “used to impunity and to low impact of their […]

  8. […] basta matar, tem que vaiar” (Nie wystarczy zabić, trzeba jeszcze pognębić). Według Rogério Tomaz Jr., próby poniżenia wynikają z faktu, iż wieśniacy są bardzo “przyzwyczajeni do […]

  9. […] sentence “Não basta matar, tem que vaiar” (Do not just kill, you have to heckle). According to Rogério Tomaz Jr., the heckling is because the ruralists are very “used to impunity and to low impact of their […]

  10. […] No 24 de maio passado, enquanto Sarney Filho anunciava com pesar o assassinato de José Cláudio, na tribuna da Câmara, os agroboys da Kátia Rebelo e do Aldo Abreu vaiavam nas galerias. […]

  11. […] No 24 de maio passado, enquanto Sarney Filho anunciava com pesar o assassinato de José Cláudio, na tribuna da Câmara, os agroboys da Kátia Rebelo e do Aldo Abreu vaiavam nas galerias. […]


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