Publicado por: Rogério Tomaz Jr. | 12/09/2011

Calunista da Folha sofre de amnésia crônica e confirma Balzac, dois séculos depois

“Quanto menos idéias se tem, mas longe se vai”.
Honoré de Balzac (1799-1850)


Os jornalistas
, coletânea da Ediouro que reúne dois textos* pouco conhecidos de Balzac, é uma leitura atualíssima e imperdível para se compreender o papel que cumpre a imprensa decadente – moral e jornalísticamente – no Brasil dos últimos três decênios.

O autor de A Comédia Humana – na qual está inserido o clássico A mulher de trinta anos – não viveu para conhecer jornalistas como Fernando Barros e Silva, calunista da Folha de São Paulo (o jornal que usa o Judiciário para censurar blogs de sátira), mas o tempo trata de perpetuar a genialidade do francês que nasceu em Tours (cidade onde reside hoje uma grande amiga minha) e viveu até 1850.

Barros e Silva, que já foi um profissional digno de respeito, cada vez mais se transforma em ventríloquo da classe média paulistana antipetista e reacionária.

O calunista da Folha, como diria, Balzac, faz parte daquele grupo de jornalistas que realizam um “trabalho fastidioso, estéril, no qual se ocupam bem menos em exprimir seus pensamentos do que em formular aqueles da maioria de seus assinantes”.

Balzac seria processado pela Folha?

A lista de textos hidrófobos de Barros e Silva é extensa e nem vale a pena gastar qualquer neurônio para elencá-los. O mais recente ataque ao PT é uma ode à amnésia – mal, aliás, que é consequência de doenças neurodegenearativas.

Sob o pretexto de abordar o 11 de setembro de 2001 e o assassinato do então prefeito de Campinas (SP), Toninho do PT, o calunista nos faz pensar: a degeneração de caráter também causa a perda de memória?

O artigo inteiro – publicado no dia 10/09 – trata do caso Toninho do PT e cita ainda o assassinato de outro prefeito petista, Celso Daniel, de Santo André (SP), morto poucos meses depois de Toninho. Ao final, solta e sem qualquer nexo, a frase que deve ter levado muitos leitores ao delírio:

“Mas sabemos quem matou a honestidade quando chegou no poder em Campinas, em Santo André, no país.”

Afinal, a corrupção, nas cidades paulistas e no Brasil, nasceu quando o PT assumiu o governo? É sério que essa ilação desafiadora do senso comum e devota da estupidez humana foi publicada num jornal quase centenário?

Por acaso Fernando Barros e Silva não morava no planeta Terra quando FHC et caterva** governavam o Brasil? Ou no curto governo Collor ou na era Sarney? Cinismo, ignorância conveniente ou desfaçatez pura?

De certa forma, Barros e Silva figura na categoria balzaquiana dos publicistas ou dos críticos, com os quais o francês não alivia: “esses dois, com seus subgêneros e variedades, têm como principal caráter não ter nenhum caráter”.

O professor Edmilson Lopes Júnior, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), tratou melhor do tema no artigo “O jornalismo, a corrupção e o PT”, no Terra Magazine.

PS: A crítica que faço ao calunista (nem merece ser chamado de colunista) da Folha não tem qualquer sentido de crítica ou deboche às pessoas que (con)vivem – inclusive na minha família – com doenças degenerativas. A provocação que faço – “a degeneração de caráter também causa a perda de memória?” – é bastante inequívoca quanto ao seu sentido, sobretudo no contexto da reflexão, quando eu registrei que o calunista já foi um profissional digno de respeito, mas parece ter degenerado o seu caráter. Quanto à afirmação da amnésia ser consequência de doenças degenerativas, é um fato científico, embora não seja a causa exclusiva da perda de memória.

*Os dois textos de “Os jornalistas” são Monografia da imprensa parisiense e Salões literários. Uma boa resenha da obra está no Fazendo Media (clique aqui).

**Uma módica lista de escãndalos da (indi)gestão demotucana na presidência está no seguinte post:

Os 45 escândalos de FHC e o combate a corrupção no Brasil: muita coisa mudou


Respostas

  1. […] Calunista da Folha sofre de amnésia var cid= 3835; Tweet (function() { var s = document.createElement('SCRIPT'), s1 = document.getElementsByTagName('SCRIPT')[0]; s.type = 'text/javascript'; s.async = true; s.src = 'http://widgets.digg.com/buttons.js'; s1.parentNode.insertBefore(s, s1); })(); 0 comments Por Rogério Tomaz Jr., no blog Conexão Brasília-Maranhão: […]

  2. Estranho…
    Eu tenho uma doença neurodegenerativa ( distrofia muscular progressiva ) e pelo que “me lembre” jamais sofri de amnésia.
    Para que xingar pessoas se valendo de doenças muitas vezes difíceis de serem assimiladas pelos que delas padecem ?
    Não é o meu caso.
    Sei lidar muito bem com a que me acompanha porém nem todos tem a minha compreensão ou a minha maneira de VIVER A VIDA !!!
    Rogério Meu Bom e Tão Querido Amigo,
    Tire esse “xingamento” desnecessário daí meu velho
    ABRAÇÃO !!!

    Enio Barroso Filho
    “Maquinista” do blog PTrem das Treze

    • Grande Ênio, sua crítica é pertinente, mas lhe peço que pondere duas coisas apenas: 1) sou militante de direitos humanos há mais de uma década (desde que me entendo como militante, aliás) e já gastei minha cota de “deslizes” desse tipo., de modo que 2) esse questionamento que fiz sobre o calunista está dentro de um contexto e não tem qualquer conotação depreciativa às pessoas que (con)vivem, como você (e como pessoas na minha família, inclusive), com doenças degenerativas. Sua crítica é pertinente, reitero, mas, humildemente, penso que não se aplica a esse post.

  3. Quando escrevi a “critica” já sabia que tu não é dos que ofendem qualquer minoria. Sei e aplaudo a tua trajetória porém é sempre bom lembrar para os muitos que normalmente se esquecem né não ??
    Entendi !!!
    ABRAÇÃO !!!

    • É isso. E vou colocar um adendo ao post para deixar isso bem nítido! Valeu pela crítica! Abração!


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