A minha mãe estava comigo. Embora ela não domine o espanhol, a fala do senhor septuagenário, bem compassada, como que arrastada, a permitiu compreender quase tudo. Em dez minutos de corrida, de San Telmo ao Caminito, o taxista atacou bolivianos, paraguaios, haitianos, colombianos e outros imigrantes pobres que povoam as villas (favelas) de Buenos Aires.
– Como podemos ficar atrás da Bolívia ou do Paraguai… em qualquer coisa? É uma vergonha isso! As villas estão cheias de bandidos porque o governo não faz nada. Antigamente isso não existia. É preciso ter mão pesada para isso!
Em vez de contestar, alimentei a fera. Comentei que no tempo do General Videla deveria ser melhor, o país devia ser mais decente.
– Ahhhh, claaaro que sim! Havia ordem e respeito naquele tempo!
Depois da isca, ele se sentiu à vontade.
– Veja você que os imigrantes que construíram esse país eram europeus… italianos, espanhois, ingleses, alemãos… e hoje… haitianos, colombianos, paraguaios… índios e negros… como podemos progredir assim, enquanto país?
Antes que eu vomitasse, chegamos ao destino.
Nunca tive carro em nove anos e meio de Brasília. Ando bastante de táxi. Em São Paulo e no Rio também. Já conheci saudosos da ditadura daqui, alguns que odeiam o PT até o último cromossomo, machistas e homofóbicos a rodo. E alguns com preconceito de classe e xenófobos também. Mas igual ao taxista argentino, nenhum no Brasil chegou sequer perto.
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PS: A maioria absoluta dos taxistas argentinos que conheci não tem nada a ver com este senhor descrito acima. Ao contrário, quase sempre tive a sorte de pegar motoristas bem humorados, simpáticos, admiradores dos brasileiros e progressistas. Outra exceção, Murphy explica, foi quando estava com meus tios Paulo e Nazita e demos o azar de conhecer um de péssimo humor…
se levarmos em conta que os caras fizeram uma limpeza étnica lá, isso em nada me espanta…
By: rennrad on 17/07/2014
at 11:58
A culpa da própria incompetência é sempre do outro, essa é a cara dos fascistas, tanto faz se são de lá ou se são os nossos. Pior é ter que conviver com dúzias deles ao seu redor em pleno sul Brasil, como no meu caso…
By: Fernando on 17/07/2014
at 12:31